Abrindo janelas

Esta é a história de pessoas que viveram e ainda vivem desde sempre num enorme e rico palácio. Um palácio realmente grande, do tamanho de uma cidade inteira. Nele, tudo que é preciso para viver existe em abundância. Alimentos, dos mais nutritivos aos mais saborosos. Vestes, das mais confortáveis às mais majestosas. Aposentos os mais aconchegantes. Lazeres os mais divertidos.

Há nele isso tudo e muito mais. Possui realmente tudo que alguém precisa para viver com conforto e alegria. Mas esse palácio tem também uma característica particular: não possui janelas. Nem janelas nem nenhuma outra abertura para o mundo exterior.

Mas, como todos que nele vivem o habitam desde sempre, isso nada tinha de incomum. Sequer podiam imaginar como era o mundo fora dali. Aliás, a grande maioria jamais pensara poder haver algo além desse palácio. E, os poucos que cogitavam dessa hipótese, possuíam  uma noção que não passava de pálidas conjecturas sobre como esse mundo seria.

Um dia, porém, numa sala restrita desse palácio, formaram-se finas rachaduras nas paredes. Muito finas, mas o suficiente para que por elas penetrasse uma estranha luminosidade. Uma luz ainda pálida, mas diferente de tudo que já fora visto.

Entre os poucos que chegaram a ver essa estranha luz, a reação predominante foi de medo e assombro. Optaram por vedar a área de acesso à sala. E reforçaram a estrutura da porta de entrada, lacrando-a completamente. Mas antes que o fizessem, a notícia tinha atingido alguns poucos ouvidos.

E, em poucos desses poucos, a curiosidade e desejo de conhecer o que havia para ser conhecido suplantava o medo. E os impelia em direção à busca pela fonte daquela luz.

Passado muito tempo e com muito sacrifício, esses que pensavam diferente e queriam saber o que há além do palácio, construíram um caminho alternativo para a sala das rachaduras. Caminho esse que teve de permanecer para sempre secreto, para que não lhe vedassem também.

Assim, o caminho fora sempre mostrado apenas para poucos. Somente para aqueles que sabia-se terem o mesmo desejo de conhecer o que há além.

Aqueles que ousaram e conseguiram chegar até a sala romperam suas paredes, formando janelas. Janelas que lhes abriram um mundo totalmente distinto daquele do interior do palácio. Um mundo de vastidão incomensurável e que jamais poderia ser ignorado, somente desbravado.

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