Em momentos de introspecção, quando distantes em espírito da correria cotidiana, surgem questões que parecem sem resposta. Devaneios sem um nexo aparente. A respiração passa a ser lenta e profunda. O olhar parece desatento. O ouvido já não mais ouve os sons em redor. Tampouco os pensamentos estão nas atividades corriqueiras. Eis o voo de uma alma.
A esse tempo, todas as preocupações deixam de existir. O passado já não mais existe. Tudo o que há é o horizonte a ser desbravado.
O que faz um pássaro alçar voos altos é a sua leveza. Igualmente, o que faz nossas almas voarem alto também é a leveza. E a leveza de espírito consiste em cultivar bons hábitos, ter dentro de si bons sentimentos. Deixar de lado atitudes pesadas, como lamentações, críticas e egoísmos e trocá-las por agradecimentos, elogios e atitudes de doação. Ter leveza de espírito é ter sempre uma palavra agradável a ser dita; ou ainda um silêncio acolhedor para ser oferecido. É saber mudar o rumo de uma conversa e torná-la mais alegre e divertida. É ser grato por todos e tudo que a nós se doam de algum modo; seja por alguém que nos ajuda e socorre em um momento de dificuldade ou por uma simples flor que nos brinda com sua beleza e perfume; pela melodia que é o canto de um pássaro; pela obra de arte que é um pôr-do-sol.
Uma vez em pleno voo, nada mais divertido e prazeroso para um pássaro – imagino eu – do que planar suavemente. E para nossas almas, o que é preciso para uma planagem aprazível pelas alturas? O que as mantêm leves? Uma atitude contemplativa é uma das maneiras, creio. Contemplar é ter admiração e respeito. Contemplar a beleza, a bondade e a justiça é tê-los como templos. E que templo é mais digno de veneração do que aquele que é belo, bom e justo? E o que é belo, bom e justo sem ser também harmonioso, sapiente e equilibrado. E como há de haver tudo isso sem Amor, Paz e Alegria? Eis o devaneio de uma alma.