Este texto não é sobre algo que eu domine, é sobre algo que eu preciso aprender. Quase todos que escrevo – senão todos – são assim.
Quero falar um pouco sobre compreensão e respeito, atitudes tão nobres como difíceis de se internalizar. Sim, difíceis, pois é nas horas críticas que sabemos se de fato compreendemos e respeitamos alguém.
Numa situação banal e comum do dia a dia, é fácil compreender alguém. Quando estamos no meio de uma conversa aprazível sobre um assunto ameno qualquer, é fácil ser respeitoso com quem falamos.
Mas nossa compreensão e nosso respeito são testados em situações críticas.
É fácil compreendermos a fragilidade de alguém que enfrenta alguma enfermidade qualquer, como uma febre ou ainda uma pneumonia. Sabemos que a pessoa está fragilizada e precisa de cuidados – e nos dispomos carinhosamente a cuidar dela.
Quando a pessoa está alegre e sorridente, é fácil estarmos ao seu lado. Quando está enfrentando uma dificuldade como as citadas anteriormente, também fazemos questão de estar juntos, ajudando naquilo que pudermos.
Mas até aí são situações corriqueiras. Nossa compreensão não é posta a teste com coisas simples assim.
A alma humana é por demais complexa, e há casos que desafiam nossa compreensão. A experiência de cada um de nós é única e singular. Não existem duas pessoas que tenham vivido as mesmas experiências. Por isso é tão difícil nos colocarmos no lugar do outro e entender o que se passa em seu interior.
Muitas pessoas travam batalhas homéricas dentro de si, escondendo os maiores tumultos debaixo de um semblante que luta para transparecer que está tudo sob controle. Muitos são marcados por traumas e confusões que ainda sequer foram compreendidos por eles mesmos, quanto mais superados.
E nesse contexto somos colocados diante dessas pessoas. Mas vemos apenas o efeito de causas que ignoramos por completo. Uma ofensa, muitas vezes, não tem a intenção de machucar… é apenas um pedido de socorro. Não é à toa que frequentemente ofendemos aqueles que mais amamos.
Algumas pessoas estão imersas numa batalha interna tão confusa que sequer têm a noção de que estão no meio dela. Seria exigir demais que fossem capazes de formular pensamentos claros explicando-nos exatamente o que se passa com elas. Cabe a quem está de fora dessa batalha a compreensão do que está acontecendo com o outro.
Quando alguém que o ama lhe machuca, se pergunte: será que ele quis me ferir? Não será esse um pedido de auxílio? Procure ver além das aparências e não tente simplificar demais as coisas. Às vezes a situação por que passa o outro é realmente complexa. Quando o julgamento se afasta, surge lugar para a compreensão.
Compreender, neste caso, não é racionalizar a situação vivida por outrem, mas sentir as emoções do outro, vivenciar, por um segundo que seja, os seus conflitos e medos, dúvidas e angústias. Enfim, é colocar-se no lugar do outro, por inteiro, e não apenas com a mente racional e fria.
Quando essa compreensão se desenvolve dentro de nós, somente assim é que somos capazes de verdadeiramente respeitar alguém. Respeitamos porque entendemos as suas dificuldades, respeitamos porque entendemos as suas lutas. Deixamos de ver uma pessoa fora de seu centro e passamos a enxergar uma alma forte em luta pela superação. Luta esta muitas vezes maior do que aquelas que enfrentamos – e percebemos que com desafios menores, caímos.
Passamos a admirar a força e a determinação daquela pessoa em ser melhor. Onde antes víamos um caso de desequilíbrio, passamos a ver um exemplo a nos guiar. Onde víamos alguém que precisa de nossa mão para se erguer, passamos a ver alguém sedento por carregar-nos no colo e fazer de nossa caminhada mais amena.