O corpo, as ilusões e a alma

As forças mais grosseiras da mente manifestam-se nas estruturas mais densas do corpo, mas as forças sutis da alma – consciência, inteligência, vontade, sentimento – requerem o bulbo raquiano e os tecidos delicados do cérebro para neles residirem e por meio deles manifestarem-se.

Em termos simplistas, as câmaras interiores do rei Alma estão nos centros sutis da superconsciência, da Consciência Crística ou de Krishna (Kutasha Chaitanya ou Consciência Universal) e da Consciência Cósmica. Esses centros estão, respectivamente, no bulbo raquiano; na parte frontal do cérebro, entre as sombrancelhas (sede do olho espiritual ou único); e no topo do cérebro (o trono da alma, no “lótus das mil pétalas”). Nesses estados de consciência o rei Alma reina de modo supremo – pura imagem de Deus no homem.

Quando, porém, a alma desce para a consciência do corpo, cai sob a influência de maya (ilusão cósmica) e de avydia (ilusão ou ignorância que cria a consciência do ego). (…) A alma, como o ego, atribui a si mesma todas as limitações ou circunscrições do corpo. Uma vez que adota essa identificação, a alma já não pode expressar sua onipresença, onisciência e onipotência. Imagina-se limitada – assim como um rico príncipe, vagando em estado de amnésia por uma favela, pode imaginar-se um pobre. Nesse estado de ilusão, o rei Edo assume o comando do reino corporal.

A consciência da alma pode dizer, como o Cristo desperto em Jesus: “Eu e meu Pai somos um”. A consciência iludida do ego diz: “Sou o corpo; essa é minha família e este é meu nome; esses são meus pertences”. Embora o ego pense que governa, ele é, na verdade, prisioneiro do corpo e da mente, que, por sua vez, são peões das maquinações sutis da Natureza Cósmica. (…) O ser humano médio só é consciente do corpo e da mente e de suas conexões com o exterior. Permanece hipnotizado pelas ilusões do mundo (expressas de muitos modos na literatura antiga e atual), que reforçam sua suposição tácita de que ele seja uma criatura finita e limitada.

Paramahansa Yogananda

 

Uma mensagem divina

A luz era intensa, de brilho indescritível. Fora como se uma estrela descesse dos céus e ali se instalasse. A paz diáfana que emitia era também indizível. Havia morrido e chegado aos céus? Ou os céus haviam descido até ali?

Passado um pouco do deslumbre, raciocinava com mais calma. E assim chegava a conclusões que, a despeito da reflexão ponderada, ainda pareciam fruto de um delírio; isso para aqueles que não haviam presenciado o ocorrido.

Não, não havia morrido. Um dos muitos anjos dos céus é que havia descido – trazendo consigo um ‘pedaço’ do paraíso.

Da luz arrebatadora pude distinguir uma forma humana saindo de seu centro, caminhando em minha direção. Prostrei-me em prantos, gratamente emocionado por estar vivenciando experiência tão divina, da qual não me considero merecedor.

– Meu filho, levanta-te – angelicamente proferiu a voz perfumada com hálito celestial. Estou aqui para lembrar-te, assim como muitos de nós sempre lembramos aqueles que ainda frequentam a escola da matéria, que o mundo em que vives é um lar de passagem. Sê grato por toda a acolhida que recebes. Cumpre teu papel com zelo, discernimento e amor. Mas confia na intuição que o guia e tem certeza: as lições que aprendeste em vidas passadas estão conservadas em tua alma. A voz silenciosa que o guia não é fruto de tua imaginação, mas o aprendizado do espírito sutilmente adentrando nos meandros da matéria. Por vezes, somos nós procurando intuí-lo sobre a melhor maneira de proceder. Tens prova, agora, de que isso tudo é real. Mas só tivestes esta oportunidade porque, antes de ver com os olhos, já o sentias com o coração e a mente da alma. Segue confiante em teus desígnios e que a Luz Maior ilumine sempre os teus caminhos.

Com um leve sorriso e um olhar que era só carinho, balançou suavemente a cabeça, como que num adeus, retornando ao local de onde viera.

– Mestre, por favor, fique mais um pouco. – supliquei.

– Não sou um mestre – respondeu humildemente –, sou apenas um mensageiro. Um dia também te tornarás um mensageiro, assim como toda a humanidade também se tornará. Seremos então todos arautos do Amor, da Sabedoria, da Paz e da Alegria divinas.

E com essas palavras desvaneceu, deixando um rastro de luz desde diante de mim até um ponto longínquo no céu; cintilou uma vez mais com intensidade acentuada e assentou-se em seu brilho perpétuo na forma de estrela.

Hábitos

As suas inspirações passageiras, ou ideias brilhantes, não controlam tanto a sua vida como o fazem seus hábitos mentais diários.

Bons hábitos são seus melhores amigos; preserve a força deles com estímulos de boas ações. Maus hábitos são seus piores inimigos; contra sua vontade eles lhe obrigam a fazer coisas que lhe machucam mais e mais. Eles são prejudiciais à sua felicidade física, social, mental, moral e espiritual. Deixe de nutrir os maus hábitos recusando-se a dar a eles qualquer tipo de alimento adicional de más ações.

Bons ou maus hábitos precisam de tempo para adquirirem força. Maus hábitos poderosos poderão ser destronados pelos bons hábitos opostos se estes forem cultivados com paciência.

Um mau hábito pode ser rapidamente modificado. Um hábito é o resultado da concentração da mente. Você tem pensado de uma certa forma. Para formar um novo e bom hábito basta concentrar-se na direção oposta.

Através das dificuldades das lições do dia a dia, você verá claramente que os maus hábitos nutrem a árvore dos infindáveis desejos materiais, enquanto os bons hábitos nutrem a árvore das aspirações espirituais. Você deve concentrar os seus esforços, cada vez mais, no desenvolvimento saudável da árvore espiritual, para que um dia você possa colher os frutos maduros da realização do seu Eu divino.

Seja cuidadoso com o que você decidir fazer conscientemente, pois, a não ser que sua força de vontade seja muito forte, será isto que você terá de fazer repetida e compulsivamente através da força influenciadora dos hábitos da mente subconsciente.

Hábitos de pensamentos são magnetos mentais que atraem para você certas coisas, pessoas e condições. Enfraqueça um mau hábito, evitando tudo aquilo que o ocasionou ou que o estimulou, porém, sem se concentrar nele. Dirija então sua mente para bons hábitos e, firmemente, cultive-os até que passem a fazer parte de você.

A verdadeira liberdade consiste no desempenho de todas as ações – na alimentação, leitura, trabalho e assim por diante – de acordo com o julgamento correto e escolha da vontade, e não compelido pelos hábitos. Coma o que deve comer e não necessariamente o que está habituado a comer. Faça o que deve fazer e não o que seus maus hábitos ditarem.

Você só será uma pessoa realmente livre quando conseguir descartar-se dos maus hábitos. Você só será uma alma livre quando for um verdadeiro mestre capaz de comandar a si mesmo e fazer as coisas que devem ser feitas, mesmo sem querer fazer. Nessa força de auto controle está a semente da liberdade eterna.

Não continue a viver sempre do mesmo jeito antigo. Trabalhe a sua mente para que alguma coisa seja feita para melhorar sua vida, e então faça. Mudar sua consciência; é tudo o que é necessário fazer.

Se você for capaz de se libertar de todos os tipos de maus hábitos e de fazer o bem porque quer fazer o bem e não meramente porque o mal traz tristeza, então você está verdadeiramente progredindo espiritualmente.

Paramahansa Yogananda


Somos eternos!

Somos seres eternos, em eterno aprendizado.

Que importa onde começamos nossa jornada? Que importa onde nos encontramos?

Somos almas imortais, viajantes do Infinito.

Como tais, temos diante de nós a Eternidade.

Medite sobre isso. Lance sua consciência em profundidade sobre essa questão.

Não, não siga adiante na leitura. Antes, mergulhe profundamente no significado da Eternidade.

Reflita sobre as implicações de algo que é para todo o sempre, sem fim.

Descole sua consciência eterna de seu corpo físico perecível.

Você não é o corpo que habita. A voz de sua alma não é aquela que sai de sua boca.

Sua consciência é livre, embora esteja confinada.

Os problemas que enfrenta são migalhas se medidos na régua da vida eterna.

Rasgue os véus que ocultam a luz de sua alma.

Você nasceu para brilhar. Espalhe o brilho perene de seu espírito cintilante.

Há tanto para ser descoberto, tanto para ser explorado, a começar por nós mesmos e nosso universo interior.

Tão vasto, tão belo, tão rico, tão… real esse universo!

Temos livre-arbítrio, capacidade de fazer escolhas… temos diante de nós a Eternidade, o que significa que temos oportunidades Infinitas!

Somos seres eternos, em construção… arquitetos de nossa própria alma, projetores de nosso próprio destino… livres para sermos felizes.

Olhar para dentro

Ah, quão doce é olhar para dentro e perceber uma imperfeição há eras arraigada em nossa personalidade! Verdadeiramente gratificante é a sensação advinda de tal percepção.

Assemelha-se ao cessar de um ruído há tanto ouvido que já nem mais é notado – embora inflija indisposição inconsciente e permanente. É como o alívio do incômodo de que não se dá conta, como o destensionamento provocado por uma massagem inesperada, que acaba com tensões com as quais se convive sem que delas se aperceba.

Assim é tomar consciência de um defeito nosso. Sim, pois nossas falhas infundem sofrimentos em nossas almas, por mais que não tenhamos consciência dessas aflições, que podem ser muitíssimo sutis. E ter uma percepção profunda dessas falhas é, ao mesmo tempo, um ato de observação interna e também de transformação.

A consciência de uma falha é, em seu grau máximo, a sua superação. É transcendê-la. Daí o caráter sublime e o bem-estar em notarmos nossas próprias imperfeições.

Véus de Maya II

Num dia a mente apaziguada, as emoções sob controle, a consciência pulsante e a certeza do caminho vívida. No outro, tão sublimes sentimentos se esvaem e parecem não deixar vestígios. O que resta são dúvidas; e a ´nova´ consciência, agora mais rasa, parece ser a voz da prudência.

Mas, em meio ao mar de dúvidas, encontramos gotas de certeza. Gotas pequeninas que, reunidas, avolumam-se e se agigantam, formando a torrente de um novo ânimo.

Num dia a paz espiritual; no outro, a consciência mundana. Eis um ciclo comum para aqueles que projetam momentaneamente suas consciências para além dos véus de maya, sem, contudo, rasgá-los.

E somente a vontade firme e persistente é capaz lacerar a teia de ilusões que oculta o que há de cristalino e real. Uma tarefa para verdadeiros titãs espirituais.

A busca pela Verdade

A verdade ancestral faz-se audível nos recessos das almas. Da vastidão do Infinito para os recantos de nosso ser, fluem os sons do Universo.

Na quietude de nossos pensamentos, ouvimos a Sua voz. Mergulhando em nossas almas, atingimos as alturas.

Ao respirar profundamente, sorvemos a um só tempo as energias que apaziguam e revigoram nossas almas.

Desvela as ilusões que encobrem tua alma. Desvenda os segredos guardados nos recônditos de teu ser.

Volta-te para dentro, pois és o portal da transcendência. Mergulha no âmago de ti mesmo e, ao fim desse mergulho, encontrarás a Verdade.

O que sabemos?

Os cinco sentidos nos remetem ao universo exterior sensorial. São o ferramental de que dispomos para percebê-lo (isto é, fatiá-lo em pequenos pedaços para que sejamos capazes de absorvê-lo). Nossa mente o codifica, interpreta. Aquilo que remanesce em nós depois da percepção inicial e da subsequente interpretação, nada mais é do que uma nova percepção indireta – isto é, trata-se da captação de uma nova fatia do universo, retirada do ambiente cru de que se originou e processada através da nossa mente.

Mas o universo sensorial é apenas uma pequena fatia do Universo que, por definição, abarca tudo – inclusive pensamentos, sentimentos e energias sutis.

Não podemos, como é óbvio, enxergar, ouvir, tatear, cheirar ou degustar pensamentos ou sentimentos. Disso depreende-se que os cinco sentidos básicos são insuficientes para que percebamos o Universo de modo minimamente satisfatório.

A chave para a compreensão do Universo sensível e inteligível é perscrutá-lo em seus aspectos materiais e espirituais. E, para isso, obviamente precisamos fazer uso, além dos sentidos básicos, das nossas faculdades espirituais.

Assim como o Universo possui dimensões físicas e espirituais, também isso ocorre conosco. Ver post “O que são chacras”, que relata sucintamente essa correspondência.

Como disse Teilhard de Chardin, “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.”

Sob essa perspectiva ajustada das coisas, cabe nos perguntarmos o quanto conhecemos do alfabeto da Vida. Quem sabe decidimos começar a frequentar a pré-escola para, um dia, passarmos a distinguir significado naquilo que hoje é o vasto reino da nossa ignorância.