Integridade

A busca pela unidade do entendimento que temos do mundo é uma extensão da busca pela integridade da nossa alma. À medida que progredimos no entendimento de nós mesmos – e, consequentemente, do mundo em redor – é natural que tomemos consciência de certas contradições internas que, no momento exato em que são compreendidas, deixam de existir.

Contradições internas são como que fissuras em nossa alma. Assim como a luz dissipa a escuridão, do mesmo modo a compreensão faz com que a ignorância desvaneça, selando essa fissura. A ignorância é um vácuo, um buraco em nossa alma, preenchido pelo que quer que seja, menos pela substância de que ela é feita – e que é parte intrínseca daquilo que somos.

Integridade supõe completude, coerência, coesão, harmonia entre as partes. Não é possível crer-se íntegro abrigando dentro de si pensamentos e sentimentos contraditórios. E não ter consciência de tais contradições não significa não abrigá-las dentro de si.

Aqueles que não conhecem a si mesmos e têm esse conhecimento como a pedra fundamental sobre a qual é erigido o entendimento de tudo o mais sobre o que lançam suas consciências, fatalmente têm suas almas fragmentadas. Abrigam no bojo de si mesmos pensamentos e sentimentos que lhes são estranhos, mas os tomam por seus próprios. Repetem, crendo inovar. Replicam, crendo inventar. São meros transmissores, crendo-se criadores.

Como bem disse Herman Hesse, em uma bela descrição da individualidade de cada um de nós, “cada homem não é apenas ele mesmo; é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar, no qual os fenômenos do mundo se cruzam daquela forma uma só vez e nunca mais.” Ocorre que quando o homem abdica de pensar por si próprio e abriga pensamentos prontos em sua mente, replicando-os inconscientemente, ele deixa de ser um ponto singular e dissipa seu ego na massa uniforme, perdendo o brilho de sua alma. Isso, pois fenômenos idênticos do mundo invadem por igual esses homens.

Até que atinjamos a plenitude (integridade) de nossa consciência, num processo de reconhecimento daquilo que somos e de seleção e descarte daquilo que nos é infundido, mas que não faz parte de nossa natureza mais íntima, estamos – querendo ou não, gostando ou não, conscientes ou não – não apenas sujeitos, mas fadados a nos deixarmos impelir por impulsos alheios ao nosso discernimento. Aí entra aquela brecha em nossa alma, o espaço vazio que é preenchido com as substâncias que a rodeiam.

 

 

Que a Força esteja com você!

Força é um sentimento que, via de regra, está associado à capacidade de ação. Uma pessoa forte é alguém que empreende, age e realiza. Isso tudo é verdade, mas é apenas metade da verdade. Há um aspecto da força que permanece quase que sempre oculto, e esse aspecto reside na abnegação. A força enquanto disposição interna manifesta-se tanto pela ação como pela inação.

A renúncia requer força de caráter e autodomínio. Abster-se de algo requer, portanto, força. É o predomínio da vontade da alma sobre a vontade terrena.

Estar investido de um poder e não utilizá-lo ao bel-prazer é um exemplo desta força. Ter vantagens tentadoras à disposição ao custo de um mínimo desvio e permanecer reto é outro exemplo.

O ápice da abnegação é o ponto em que abrimos mão daquilo que de há de mais valioso para nós.

Quanto isso ocorre, isto é, quando abrimos mão de algo que poderia nos proporcionar a maior das satisfações, mas que está desalinhado dos princípios mais elevados e eternos, somos preenchidos, paradoxalmente, por uma satisfação ainda maior – transcendente.

Então… esteja com a Força e:

“Que a Força esteja com você!”

Deus, livros e músicas

Parte 1

I

Letras, que formam palavras, que formam orações, que formam períodos, que formam parágrafos, que formam capítulos, que formam um livro.

Papéis gravados por tintas, que formam caracteres ou imagens.

Pouco importam as suas dimensões, as suas cores, a qualidade do material em que foram impressos, ou ainda o número de páginas e a fonte utilizada.

Mediante o exame exclusivo destes aspectos formais, jamais se chegará ao entendimento correto do que seja de fato um livro.

II

Cordas vibrando, caixas acústicas ressoando, teclas pressionadas, tubos soprados.

Tablaturas, cifras, partituras.

Dedos tocando instrumentos cadenciadamente.

Por esses prismas, a essência de uma melodia permanece incompreensível.

III

Um livro, antes de ser materializado por meio de palavras impressas à tinta sobre o papel, é uma ideia – ou um conjunto delas. E uma ideia não surge espontaneamente – é fruto de uma inteligência, que manifesta uma intenção.

IV

Uma música, antes de ser materializada em sons, é uma emoção, um sentimento evocado por um ser consciente.

V

Livros e músicas têm algo de etéreo. Suas essências são etéreas. Seus significados transcendem, obviamente, suas feições materiais.

 

Parte 2

I

Tudo o que há no mundo de muito complexo surgido depois do homem, foi criado pelo homem.

II

Nenhuma cadeira jamais surgiu do agrupamento espontâneo de moléculas de madeira – ou de qualquer outro material. Houve uma intenção inteligente por trás.

Nenhum forno micro-ondas jamais surgiu do agrupamento espontâneo dos seus componentes. Houve uma intenção inteligente por trás.

Aparelhos de rádio, televisores, computadores, idem.

III

O ser humano é algo de muito complexo.

Terá sido obra do acaso ou fruto de geração espontânea?

 

Parte 3

I

Tal como os livros e as músicas, o homem transcende ao seu aspecto material.

II

Tal como os livros e as músicas e as cadeiras e os fornos micro-ondas, há uma intenção por trás dos seres humanos.

III

Tal como na criação de tudo o que há de complexo, há uma alma inteligente que emana cada intenção.

 

Parte 4

I

A Vida é uma grande obra, ao mesmo tempo completa e infinita. Deus é o seu autor.

II

A Vida é uma sinfonia; Deus é o seu compositor e maestro regente.

O Perdão

Quem disse que viagem no tempo é impossível? O que é o perdão senão uma cápsula de amor, envolta por compreensão, enviada ao passado e capaz de alterar todo o encadeamento de eventos seguidos a uma antiga mágoa transmutada em indulgência?

O perdão afrouxa os laços do ressentimento, laços esses que mantêm atados os que deram-lhe causa e também aqueles que – sentindo-se ofendidos – não souberam perdoar.

O perdão desata um nó que surgiu no momento em que a mágoa formou guarida no coração injuriado. É, portanto, um sentimento que volta ao passado.

Aquele que perdoa verdadeiramente não guarda resquícios de mágoa ou rusgas quaisquer que sejam. Elimina por completo todos os vestígios daquilo que um dia lhe causou ressentimento.

Do perdão emerge um novo olhar no presente, que reflete-se também no passado e no futuro. O perdão lança luz às sombras do rancor.

E que não pairem enganos: perdoar não é absolver. Para absolver alguém é preciso, antes, colocar-se na posição de seu juiz. Para perdoar, basta compreender a falta de sentido em condenar.

Duras verdades

Algumas pessoas estão tão acostumadas a mentiras e ilusões que a verdade lhes parece dura, chegando mesmo a machucá-las.

Assim como alguém que passa muitos anos nas profundezas escuras de uma caverna –  e que, portanto, acostuma-se com a escuridão – ao sair desse ambiente é ferido pela luz do sol, que machuca-lhe os olhos e tosta-lhe a pele, do mesmo modo a luz da verdade pode machucar aqueles que se acostumaram à escuridão da mentira.

A casa do melindre é o próprio melindrado.

Aquele que vê violência onde ela não existe – e ela pode não existir mesmo em palavras duras -, assim o vê porque ela mora dentro de si.

Não há violência em chamar as coisas pelo nome. Há casos em que isso é desnecessário; há casos que admitem alternativas; há casos, porém, em que a verdade desnuda é fundamental.

Aquele que tem violência ou melindre dentro de si, os projeta para fora. Por inconsciente desse processo, vê apenas a projeção daquilo que emanou, ignorando que a origem é ele próprio.

Por ignorância, vê apenas o efeito, atribuindo a outrem algo que ele mesmo causou.

P.S.: Palavras duras, segundo vejo, são palavras que podem impactar por sua verdade, contudo, são destituídas do intento de machucar, ou melhor, têm o intento consciente de não machucar. Palavras rudes, a que se refere o post anterior, trazem em si um aspereza desnecessária, são impregnadas de rusgas e sentimentos mal resolvidos, são como que uma chicotada verbal.

Revestimento das palavras

A suavidade no falar é para os ouvidos tal como a seda é para a pele.

Assim como a embalagem bem feita de um presente ressalta-nos o apreço por ele, de tal modo também a brandura com que as palavras são proferidas torna saliente o seu conteúdo.

Palavras rudes, por sua vez, com sua textura áspera, arranham aqueles a quem se dirigem.

Formas externas são películas que revestem o interior. Mais do que isso, são o delineamento que é a própria extensão daquilo que encobrem.

Como fazer pra tudo dar certo

Para dar tudo certo, basta fazer tudo certo.

Para fazer tudo certo, não é preciso ser perfeito, basta fazer aquilo que está ao alcance.

Aquilo que está ao alcance é tudo o que pode ser feito e, portanto, fazê-lo é fazer o certo.

Mas não se engane: quase sempre aquilo que está ao nosso alcance é mais do que podemos enxergar.

A vida é uma só

A vida é um ato contínuo; não cessa jamais. Toda divisão da vida é uma divisão artificial que serve para captar-lhe um aspecto particular. Mas essa divisão de fato não existe. Assim, não há o que falar em vida espiritual e vida material. É tudo uma coisa só. Vivemos, mesmo acoplados a um corpo de matéria, uma vida espiritual. Se não fosse nosso espírito a animar nosso corpo, nele não haveria vida.

A vida é uma só; e ela se dá em múltiplos planos, em múltiplos corpos, sem, contudo, nossa alma jamais deixar de existir, de viver, por um instante sequer. Assim, a vida da alma é uma só; as experiências terrenas é que são variadas.

A vida terrena é uma experiência particular da vida espiritual. Aqui nossa alma é dada a testes, aprendizados, provas e redenções. Temos a oportunidade de educar as nossas emoções, de cumprir desígnios a que nos propusemos (mesmo que deles não lembremos), de aprimorar nosso caráter e de resgatar antigas dívidas.

Nossa alma está em constante e ininterrupto aprendizado. O estágio em que ela passa no plano terrestre é uma oportunidade ímpar de acelerar esse aprendizado e de por à prova as conquistas internas que pensamos ter alcançado. É uma oportunidade pela qual devemos gratidão e que não deve ser desperdiçada.

Cada instante deve ser vivido em plenitude, seja no trabalho, nos afazeres cotidianos, nas horas livres ou de lazer – tudo pode servir de aprendizado.

Se você começa a semana esperando pelo seu fim e lamenta-se a cada segunda-feira que se inicia, certamente há algo de errado com você. Sim, com você, não com a sua rotina. Falta, talvez, gratidão por todas as oportunidades que certamente surgem diante de você. Falta, mais que isso, enxergar o sentido que há por trás de cada situação. Falta ver a si mesmo e as circunstâncias dentro de um contexto maior, cuja significação talvez lhe escape.

Você pode dar um `bom dia` mecanicamente, ou pode fazê-lo com desejo sincero e um sorriso no rosto. Se fizer isso, certamente esse sorriso irá se multiplicar.

Você pode cumprir com as suas obrigações, fazendo aquilo que esperam que faça, ou você pode fazer aquilo que precisa ser feito, independentemente de alguém ter pedido ou mesmo mandado, ou, ainda, apesar disso.

Você pode passar seu tempo livre a ler ou falar coisas vazias, ou pode direcionar sua mente à busca do verdadeiro significado e sentido das coisas.

Você pode perder tempo em lamentações, reforçando o objeto do lamento, ou pode desde logo encaminhar-se para as soluções, sem perda de tempo e de energia.

Você pode apontar os defeitos das pessoas e do mundo, ou pode ajudá-las e fazer a sua parte para construir um mundo melhor.

 Você pode muitas coisas, menos impedir o fluxo da vida, que segue sempre adiante, em seus múltiplos aspectos: os que compreendemos e os que nos são incompreensíveis; aqueles em que acreditamos e aqueles nos quais não cremos; os efêmeros e os perenes…