Podemos fazer tudo — mesmo o inimaginável –, mas nem tudo deve ser feito.
O discernimento e a temperança nos proporcionam a inação comedida. [isto é Yin]
A coragem e a ousadia nos impelem à ação. [isto é Yang]
A sabedoria nos mantêm firmes no estreito caminho do equilíbrio entre Yin e Yang.
Compreensão…
Este texto não é sobre algo que eu domine, é sobre algo que eu preciso aprender. Quase todos que escrevo – senão todos – são assim.
Quero falar um pouco sobre compreensão e respeito, atitudes tão nobres como difíceis de se internalizar. Sim, difíceis, pois é nas horas críticas que sabemos se de fato compreendemos e respeitamos alguém.
Numa situação banal e comum do dia a dia, é fácil compreender alguém. Quando estamos no meio de uma conversa aprazível sobre um assunto ameno qualquer, é fácil ser respeitoso com quem falamos.
Mas nossa compreensão e nosso respeito são testados em situações críticas.
É fácil compreendermos a fragilidade de alguém que enfrenta alguma enfermidade qualquer, como uma febre ou ainda uma pneumonia. Sabemos que a pessoa está fragilizada e precisa de cuidados – e nos dispomos carinhosamente a cuidar dela.
Quando a pessoa está alegre e sorridente, é fácil estarmos ao seu lado. Quando está enfrentando uma dificuldade como as citadas anteriormente, também fazemos questão de estar juntos, ajudando naquilo que pudermos.
Mas até aí são situações corriqueiras. Nossa compreensão não é posta a teste com coisas simples assim.
A alma humana é por demais complexa, e há casos que desafiam nossa compreensão. A experiência de cada um de nós é única e singular. Não existem duas pessoas que tenham vivido as mesmas experiências. Por isso é tão difícil nos colocarmos no lugar do outro e entender o que se passa em seu interior.
Muitas pessoas travam batalhas homéricas dentro de si, escondendo os maiores tumultos debaixo de um semblante que luta para transparecer que está tudo sob controle. Muitos são marcados por traumas e confusões que ainda sequer foram compreendidos por eles mesmos, quanto mais superados.
E nesse contexto somos colocados diante dessas pessoas. Mas vemos apenas o efeito de causas que ignoramos por completo. Uma ofensa, muitas vezes, não tem a intenção de machucar… é apenas um pedido de socorro. Não é à toa que frequentemente ofendemos aqueles que mais amamos.
Algumas pessoas estão imersas numa batalha interna tão confusa que sequer têm a noção de que estão no meio dela. Seria exigir demais que fossem capazes de formular pensamentos claros explicando-nos exatamente o que se passa com elas. Cabe a quem está de fora dessa batalha a compreensão do que está acontecendo com o outro.
Quando alguém que o ama lhe machuca, se pergunte: será que ele quis me ferir? Não será esse um pedido de auxílio? Procure ver além das aparências e não tente simplificar demais as coisas. Às vezes a situação por que passa o outro é realmente complexa. Quando o julgamento se afasta, surge lugar para a compreensão.
Compreender, neste caso, não é racionalizar a situação vivida por outrem, mas sentir as emoções do outro, vivenciar, por um segundo que seja, os seus conflitos e medos, dúvidas e angústias. Enfim, é colocar-se no lugar do outro, por inteiro, e não apenas com a mente racional e fria.
Quando essa compreensão se desenvolve dentro de nós, somente assim é que somos capazes de verdadeiramente respeitar alguém. Respeitamos porque entendemos as suas dificuldades, respeitamos porque entendemos as suas lutas. Deixamos de ver uma pessoa fora de seu centro e passamos a enxergar uma alma forte em luta pela superação. Luta esta muitas vezes maior do que aquelas que enfrentamos – e percebemos que com desafios menores, caímos.
Passamos a admirar a força e a determinação daquela pessoa em ser melhor. Onde antes víamos um caso de desequilíbrio, passamos a ver um exemplo a nos guiar. Onde víamos alguém que precisa de nossa mão para se erguer, passamos a ver alguém sedento por carregar-nos no colo e fazer de nossa caminhada mais amena.
Explorando a Consciência
Meses atrás, esqueci de comprar fósforos no supermercado. Hoje, meu prédio está sem luz e, portanto, o acendimento automático do fogão não funciona. Me dei conta disso quando ia deixar uns biscoitos de queijo pra assar. Sem problemas. Resolvi mudar de planos. Decidi meditar – coisa que só iria fazer mais tarde.
Não consegui entrar em meditação profunda, mas foi o suficiente para dissociar a minha consciência do meu corpo físico e, mais que isso, de todo o universo material. Foi interessante.
Antes disso, havia passado uma tarde introspectiva, com leituras amenas e aproveitando a tranquilidade de um dia chuvoso. Há horas a região está sem luz, o que significa: nada de televisão; e outras distrações, como celular e notebook, somente com moderação, enquanto durar a bateria.
Pois bem, cá estava, no apartamento em que moro, com a parca iluminação de uma lanterna para deixar o ambiente mais aconchegante e nenhuma distração. Cruzei as pernas, cerrei os olhos, controlei a respiração e me pus a meditar. Soube, com plena convicção, que apesar de meu corpo estar à penumbra numa sala, minha consciência poderia estar em qualquer lugar, sem limites de possibilidades, a não ser aqueles autoimpostos, ou aceitos – seja isso de modo consciente ou, como é mais frequente, inconscientemente.
Se uma simples coceirinha chamar a atenção, é pra lá que nossa consciência se dirige. Se uma angústia nos acomete, é pra lá que nossa consciência se dirige. Se pensamentos tumultuados se sucedem em nossa mente, é pra lá que nossa consciência se dirige.
Mas esse processo se repete tão somente pela força do hábito. As coisas são desse jeito, mas não precisam ser assim. Nossa consciência está habituada a voltar-se para os nossos sentidos. Mas esse hábito, como todos os demais, pode ser mudado e substituído por outro que melhor nos convenha. Nossa consciência pode voltar-se para si mesma. E quando isso ocorre, isto é, quando somos conscientes de nossa própria consciência, desligamos o piloto automático e passamos a traçar nossos próprios rumos.
Podemos brincar com as percepções de nossa consciência. Podemos concentrá-la num único ponto, como num chakra, por exemplo. E quando digo concentrá-la, refiro-me a voltar toda ela, sem dispersão, para um único ponto. Se a voltarmos para nosso coração – ou chakra cardíaco – podemos ter ciência de todas as emoções e sentimentos que nele vibram. Podemos identificar a origem de cada sentimento e, se o sentimento não for positivo, podemos arrancar-lhe pela raiz. Por outro lado, se for um sentimento positivo, podemos amplificá-lo, explorando outras perspectivas de tal sentimento, além de irradiá-lo para quem quer que seja.
Podemos, em vez de concentrar a consciência num único ponto, expandi-la cada vez mais e mais, buscando abarcar um universo cada vez maior. O limite é o Infinito. Não há nada que seja impenetrável para uma consciência. Aonde quer que você a lance, ela irá. Ou melhor, aonde quer que você se lance, você irá – isso, pois você é a sua própria consciência.
Da próxima vez que se olhar no espelho, saiba que aquela imagem refletida não corresponde àquilo que você é. Você está habituado a associar – e mesmo identificar – a sua consciência ao seu corpo físico. Mas a sua consciência é muito anterior a ele, e perdurará independentemente dele. A forma de sua consciência é a forma que você quiser dar a ela, ou melhor, é a forma com que você concebe ela, e esse processo se dá quase que sempre sem que o notemos. Sua consciência sequer precisa de uma forma definida.
Há tanto para aprendermos sobre o mundo espiritual, que está além do mundo sensorial. Vale tanto a pena nos desligarmos dos sentidos, que nos ligam apenas ao mundo externo material, e nos voltarmos para o nosso interior, cujo alcance não tem limites…
Ainda bem que esqueci dos fósforos…
Seja original
Ser original não é ir contra tudo e contra todos. Muitas pessoas agem assim, e isso nada tem de original.
Ser original é ir além de tudo, é transcender aos limites que cerceiam a todos – principalmente a nós mesmos.
Cultive o sentimento de atemporalidade. Seja um ser humano liberto dos liames do próprio tempo.
Homens e mulheres de todas as épocas carregaram em suas mentes preconceitos e crenças limitantes que o tempo se encarregou de derrubar.
Mas pense: Por que seria diferente conosco? Será que não estamos imersos nos preconceitos e nas limitações de nosso próprio tempo?
Nutra e fortaleça dentro de si a consciência de que sua alma é livre e eterna. Livre para decidir os rumos do próprio destino. Eterna para pairar além de qualquer tempo específico.
Somos todos um elo da mesma corrente
Cada um de nós é um elo de uma grande corrente. Estamos todos atrelados aos demais, ainda que esses laços permaneçam invisíveis aos nossos olhos.
Mas como assim?, alguém pode perguntar.
Os laços mais próximos, entre familiares e amigos, são óbvios. Temos ligações afetivas com eles e, não importa a distância, dificilmente estaremos plenamente felizes se um deles não o estiver também.
Mas e do longínquo Japão, país que nunca visitei e de cujo idioma não compreendo mais do que meia dúzia de palavras, que ligação tenho com qualquer de seus habitantes?
Bem, certamente se você ouve falar de uma tragédia ocorrida com um japonês qualquer, isso lhe afeta, ainda que temporariamente e numa intensidade talvez pequena. Agora, se lhe contam a história de vida desse japonês, desde a tenra infância, passando por suas agruras e conquistas, essa tragédia toca-lhe mais a fundo. Se você ouve falar de um caso de comoção nacional, como o de Fukushima, ocorrido há poucos anos, você se condói das vítimas.
II
Nosso nível de consciência ainda é muito egoico. Nosso ego ainda filtra quase que todas as percepções que temos da vida. Mesmo nosso amor ainda é egoísta. Segue um trechinho do texto Filhos da Luz, que trata sobre isso:
Começamos aprendendo, instintivamente, a amar a nós próprios, depois aos nossos familiares, em seguida aos nossos amigos com os quais guardamos afinidade… mas todas essas formas de amor trazem em si um pouco de egoísmo. Amamos a “nós”, aos “nossos” familiares, aos “nossos” amigos…
O amor universal é como o sol que irradia o seu brilho para todos.
Quem ama um amor não egoísta ama, também, aqueles que desconhece, aqueles de que diverge e mesmo aqueles que, na falta desse amor, lhe causariam repulsa. E esse amor não fica circunscrito às pessoas, estende-se aos animais, à natureza… é infinito…
Pois bem, o estágio em que nossa consciência se encontra é egoico. Mas, tal como um dia uma simples sementinha se transforma numa frondosa árvore, do mesmo modo, um dia, nossa consciência irá se desenvolver e se tornar mais ampla.
Deixaremos de estar voltados apenas para nós mesmos e nutriremos o mesmo amor que sentimos por um filho, um irmão ou um pai, por toda a humanidade.
Somos almas imortais caminhando pela eternidade. Essa realidade de plena consciência ainda está muito distante de se tornar a realidade do planeta em que vivemos. Mas, sob o prisma da eternidade, eras e eras não passam de um piscar de olhos. É apenas uma questão de tempo.
III
Os laços entre todos nós, seres humanos, são reais e existem desde já, tanto que, quando tomamos consciência de um infortúnio ocorrido com quem quer se seja, nos condoemos disso.
A questão é que no mais das vezes não temos consciência do que ocorre no íntimo de cada um que está distante de nós. Quando despertamos a consciência para isso, nos identificamos com o sofrimento alheio e sentimos compaixão.
Fazemos parte da mesma corrente e, como fiz o adágio: “Não há corrente mais forte do que o seu elo mais fraco.”
Somos todos um. Ao machucarmos alguém, machucamos em primeiro lugar a nós mesmos. É fácil perceber isso. Brigue com alguém e logo em seguida analise a si mesmo: você estará se sentindo mal, inevitavelmente. O mesmo vale para o outro lado da moeda: pratique o bem, ajude alguém e logo você estará se sentindo bem – fazendo o bem a quem quer que seja, você estará fazendo o bem a si mesmo também, pois somos todos um elo da mesma corrente.
O teatro da vida
Às vezes é preciso nos desligarmos de tudo para que possamos nos voltar para o que realmente importa. É preciso que esqueçamos, por um instante ao menos, da política, dos conflitos, das injustiças, da ignorância e de todos os males que têm vazão a cada dia em todos os lugares.
Precisamos dar ao nosso coração a chance de que pulse liberto de angústias, medos e preocupações. Se os problemas fazem parte da realidade, não podemos deixar que eles tornem nebulosa nossa visão, impedindo que vejamos as ilhas de pureza que se encontram por aí.
Em meio a multidões de indivíduos de consciência rasa, sempre há aquele que luta com todas as forças para tornar-se consciente de si e da vida. É uma ilha de consciência e determinação envolta por um oceano de automatismo inconsciente.
Em meio a multidões que facilmente cedem em escolhas morais que exigem algum grau de sacrifício, sempre há aquele mantém seu caráter ilibado e sua honestidade a toda prova, independentemente de quaisquer que sejam as circunstâncias. É uma ilha de honestidade e de fibra moral rodeada por um oceano de pusilanimidade espiritual.
Nas pessoas que se destacam — ou que se destacaram — na jornada da vida, podemos encontrar a inspiração e o exemplo a serem seguidos. Convém não perdermos de vista o legado desses homens, pois é frutífero tê-los como guias, tomados como inspiração constante.
Este deve ser o nosso foco: nos espelharmos naqueles que se sagraram vitoriosos, procurando compreender o caminho que percorreram e imitar-lhes as passadas. De nada adianta cultivarmos queixumes em relação àqueles que não conduzem suas vidas de maneira admirável.
Quando cultivamos ranços, mágoas e revoltas, nos ligamos àqueles que nos despertam tais sentimentos. O que fazemos ao dar vazão a essas emoções é intensificar ainda mais o laço que a eles nos une, sem que com isso mudemos o seu jeito de ser — e frequentemente dispendendo uma valiosa energia de nosso ser, impedindo, portanto, que vivamos à plena potência de nossa capacidade.
Ninguém corrige ninguém por meio de reprimendas que são, no mais das vezes, um mero desabafo. Condutas exemplares, por outro lado, inspiram uma transformação interna. Picuinhas e discussões vazias tiram o foco da senda da alma, afastando-nos daquilo que verdadeiramente importa.
Para contemplar o todo, é preciso tirar o foco das partes. E o meio para isso é a meditação profunda. Meditar não é tornar a mente vazia, é esvaziá-la das tragédias e futilidades cotidianas, abrindo espaço para que seja guarida das verdades maiores.
Para escrevermos o roteiro de nosso próprio destino, precisamos abrir mão do papel que nos foi dado no teatro da vida.
A luz da verdade
“Os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido.” (Winston Churchill)
A verdade é como uma luz forte que obriga os olhos a ela não habituados a cerrarem-se em proteção. As pálpebras são a proteção natural dos olhos contra a luz; o autoengano é a proteção natural contra a verdade.
Aquele que, por desalinhado das verdades maiores, ofende-se quando estas lhe são mostradas, só demonstra com tal melindre uma escassez de maturidade espiritual.
Um espelho não distorcido, mostra tão só o reflexo fidedigno daquilo que diante dele se encontra. Se o que diante dele se encontra somos nós e, ainda assim, não nos agradamos com aquilo que vemos, que sentido tem ficarmos ofendidos com o espelho?
Se não gostamos de nossa imagem refletida, cabe a nós tratarmos de melhorar, dentro das possibilidades, nossa aparência. Ficarmos bravos com o espelho nunca irá resolver o problema.
Do mesmo modo, não faz sentido tratar com braveza ou mesmo melindre as verdades de nós mesmos que nos são mostradas. Se não gostamos dessas verdades, o culpado somos nós mesmos e não o mensageiro que no-las mostrou.
Mas não deixa de ser natural para o ser humano agir deste modo. No geral, ainda não passamos de um estágio primevo de maturidade emocional e espiritual.
Além do autoengano, o esquecimento é outra proteção contra a verdade. Aqueles que se deparam com verdades com as quais não estão prontos para lidar, reagem inicialmente com uma perplexidade exacerbada diante da nova perspectiva. No entanto, esse efeito não é duradouro. Em pouco tempo a pessoa acaba esquecendo daquilo que a chocou, se isso estiver fora do cabedal de sapiência que sua alma assimilou.
A luz é a metáfora perfeita para a verdade, assim como as trevas o são para a ignorância. Os olhos facilmente se acostumam à penumbra, chegando a sentir-se aconchegados a ela. Os mesmos olhos, com igual facilidade, ambientam-se na escuridão. Daí ao breu total, a linha é tênue.
O mesmo se dá com a consciência, que pouco a pouco vai se habituando a pequenas mentiras e doces ilusões na mesma proporção em que se afasta da verdade. A ignorância é o breu da consciência. Assim como os olhos acostumados ao breu se machucam quando expostos à luz, as consciências imersas na ignorância ferem-se quando diante da verdade.
Que…
… todos os pesos sejam abandonados de nossos ombros para que possamos caminhar eretos perante a vida.
Que todas as máscaras sejam arrancadas de nossas faces para que possamos apreciar diretamente o brilho da vida.
Você pode!
Se alguém pode, então você também pode.
Se alguém é capaz, então você também é capaz.
Se alguém já conseguiu, então você também conseguirá.
Fomos moldados na mesma forja.
Carregamos as mesmas sementes.
Somos feitos do mesmo material.
O que nos diferencia são as escolhas que definem o nosso caráter.
Fardos ou dádivas?
O aprendiz perguntou:
– Por que o fardo da vida é tão pesado para alguns e tão leve para outros, mestre?
O sábio respondeu:
– Se julgas que as provas por que passam alguns são um fardo, é por que ainda não viste o fortalecimento da alma ocorrendo, pois este se consolida naqueles que atravessam adversidades com força e sabedoria. É, portanto, uma dádiva o que acontece, e não um fardo que lhes aflige.
Aqueles que pensas serem privilegiados – continuou o mestre -, ou já são fortes o suficiente e, portanto, a vida não lhes pesa sobre os ombros, ou ainda não adquiriam forças para serem submetidos aos primeiros testes. Estes, apenas começaram a caminhada mais tarde e ainda estão nos primeiros passos. Aqueles fizeram por merecer, pois já superaram as ilusões do mundo e aqui estão por outras razões. Ao fim da jornada, porém, o destino que nos aguarda a todos é o mesmo: a realização divina.