De uma terra distante veio o Peregrino, cujo mapa com a indicação do caminho de volta para casa está guardado nos recônditos de sua alma. Tão remota era sua terra natal que mesmo as estrelas mais afastadas pareciam próximas se comparadas a ela. E cá estava ele, vivendo sua vida, embora ansiando sempre por regressar à pátria amada. Uma pátria de que ninguém ouvira falar, mas cuja existência lhe era certa. Ele próprio já não lembrava mais como era o lar que sempre o acolhera e de onde viera, o que não abalava, no entanto, a certeza de ter uma casa para retornar após a longa jornada da vida.
Olhava ao redor, em sua atual morada, e a sensação de que dali não fazia parte era permanente. Mesmo que tentasse, jamais poderia encaixar-se por completo num mundo que não é o seu. Como fora parar ali é uma história que ficou esquecida; que foi paulatinamente apagada das memórias daqueles que um dia dela souberam.
E assim, o que era realidade virou mito. E o mito foi esquecido.
Mas nada desaparece por completo sem deixar vestígios; toda história deixa traços de seu curso, ainda que seus rastros sejam por demais sutis. E, como foi dito, o mapa que guarda o caminho de volta para casa encontra-se nos recônditos da alma do Peregrino. E assim como ele, aqueles que almejam retornar à pátria de origem, devem dar ouvidos às vozes de suas almas – única maneira capaz de acessar o mapa que se encontra tão perto e ao mesmo tempo tão inacessível.
Da infinitude de caminhos que se lhe apresentavam, mesmo os mais atraentes e prazerosos, somente um parecia preencher seus anseios mais profundos: o caminho de volta para casa. Ainda que nem sempre os rumos que o conduziriam de volta à pátria esquecida fossem claros, aqueles que desembocavam em direção oposta eram facilmente detectáveis, pois sua alma sempre os rejeitava, ainda que sua mente por vezes buscasse ocultar tal rejeição.
E quando percebeu que o caminho oculto poderia ser revelado, a angústia deu lugar à esperança; e o inverno, à primavera.
(Continua…)