Fala-nos sobre o que sentes, ó jovem apaixonado. Vejo o enlevo em teu semblante, e gostaria que dissestes o que se passas em teu coração. De teus olhos esparge brilho, fazendo parecê-los um par de uma joia viva. Teu sorriso forma linhas suaves em teus lábios, conferindo suavidade ao teu semblante. Pareces ter encontrado a paz através do amor. E isso é o que todos buscamos, pois somente um coração adubado com paz e amor é solo fértil para a felicidade. E eis o que em verdade buscamos: felicidade. Assim, conta-nos como chegaste a ela, querido jovem.
Eis o que respondeu-lhes:
Falar sobre o que sinto significa profanar meus sentimentos, visto não haver modo de esculpir em palavras aquilo que invade meu coração, perpassa todo o meu ser, infunde-se da maneira mais profunda em meu eu e transborda de mim, tornando a jorrar sobre mim novamente.
Se fosse poeta, arriscaria umas palavras mais; como não sou, ficam apenas estas, na tentativa não de exprimir o que sinto, pois isso seria impossível, mas sim de colocar para fora, ainda que de forma pálida e tosca, um pouco daquilo que me invadiu. E isso sem a intenção de livrar-me de parte do que me tomou, jamais!, até porque parece tratar-se de fonte copiosa e inesgotável, mas sim para compartilhar, como pediste, ainda que precariamente, um reflexo do que senti. Sim, o que compartilho é apenas isto: mero reflexo do que senti.
Nome para isso, creio que haja: chama-se Amor. Compreensão sobre isso, creio não haver. Nossa “infimez” não é capaz de abarcar a infinitude. E o Amor é assim: infinito. Sentimento que tem o condão de tudo transformar, de tudo sublimar. Capaz de fazer rocha flutuar.
Vejo o Amor como fonte copiosa e, para senti-lo, creio precisemos ser o canal por onde essa fonte corre. É preciso estarmos abertos e deixarmo-lo que nos invada.
Mas, chega de profanação. Quanto mais falo e tento explicar, tanto mais me afasto daquilo que simplesmente é, e que independe de explicações; que não cabe em explicações…