Um tesouro inestimável

Aldenor Romero Studart

aldenorstudart@gmail.com

Hoje em dia a violência está ao nosso redor, próxima ou mais distante, mas tão corriqueira, tão constante e presente quanto o ar que respiramos.

Ela está em todos os meios de comunicação, nas suas mais diversas formas e graus de intensidade. Tal situação por si mesma já é péssima, mas pior do que isso, pior do que a violência que nos envolve, é a violência interna.

As cenas e situações de violência que existem não aparecem do nada, não brotam espontaneamente no tempo e no espaço. Elas têm origem, afloram, nas pessoas. Saem de dentro para fora – sendo que algumas vezes vêm de fora para dentro – e, lá no fundo de cada um, frequentemente são multiplicadas para, de forma mais ou menos intensa, serem devolvidas ao ambiente.

Sem perceber, frequentemente geramos alguma forma de desequilíbrio. Falamos de forma grosseira com outras pessoas, que também fazem o mesmo conosco, pelas mais diversas causas e nas mais diferentes situações. O mais terrível é que muitas vezes nem notamos que isso acontece, devido à banalização da violência, externa e interna.

Para que possamos ter um equilíbrio real e verdadeiro temos que estar acima de tudo isso. Nesse sentido costumo lembrar que, quando viajo de avião, procuro olhar pela janela e, ao ver os quilômetros e quilômetros de terra abaixo, imagino que em poucos segundos de percurso aquele avião deverá ter sobrevoado centenas e centenas de desequilíbrios e conflitos. Desequilíbrios que ali, olhando de cima e bem distante, parecem pequenos e até insignificantes. Acho que para alcançarmos a paz interior uma parte de nós deva estar num avião imaginário, vendo tudo numa perspectiva maior, mais ampla, enxergando sempre o horizonte. Penso que podemos lutar as batalhas do dia a dia, mas não devemos perder nossas asas, nem deixar de colocar as coisas na sua devida proporção.

Entendo ser necessário e imprescindível lutarmos para atingir objetivos e atender necessidades, mas podemos mudar a forma como lutamos e talvez, em alguns casos, seja recomendável revermos a necessidade de algumas batalhas.

Acredito que devemos tentar existir sem ódio, sem raiva e sem ressentimentos. É fundamental entendermos que os outros também passam por necessidades e dificuldades, que palavras e situações que nos magoaram não devem ser guardadas e relembradas, mas sim perdoadas e esquecidas. Devemos cultivar diariamente a tolerância e a compaixão, se pretendemos que a vida continue fluindo dentro de nós, ao invés de nos transformamos em acumuladores de mágoas e mortes.

A paz interior é um tesouro inestimável, muito mais valioso do que a posse de dezenas de bens materiais e essa paz atrai – por ressonância – condições muito positivas para nossa vida. Ela pode ser usufruída naqueles breves momentos quando somos preenchidos por uma sensação de plenitude e percebemos que não há mais conflitos, não há mais desentendimentos, que os desequilíbrios externos e internos ficaram tão distantes e remotos quanto as terras mais longínquas. Nesses breves momentos temos a certeza de estarmos no caminho certo, mesmo que esse caminho mude depois. É quando temos a confirmação interna de que um outro mundo, uma outra realidade,  existe e é possível.

Apesar desses pequenos momentos fugidios de paz serem esparsos, somente o fato de existirem energiza o espírito, anima os corações e deixa em nossas vidas um perfume de esperança.

 

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