O Peregrino – Parte II

Continuação de O Peregrino

A certeza de que sua alma viajante poderia regressar ao lar amado preencheu-lhe todo o seu ser, e mudou para sempre sua visão, tão embaçada após tão longa odisseia vivida. Mas falemos um pouco, antes, sobre como começou essa estória.

Como alguém que anda perdido pelo deserto logo tem os sentidos embaralhados, assim que a água escasseie e o calor abunde, assim o foi com o Peregrino no início de sua jornada longe de casa.

A água e o pão são o substrato sem o qual o corpo de matéria não sobrevive. Mas é importante dizer: o Peregrino estava ocupando corpos de matéria, vida a vida, e de modo algum os corpos que habitava podem confundir-se com o que o aventureiro é em essência.

E aqui nesse mundo, o alimento de sua alma era muitíssimo raro, e ele não sabia onde encontrá-lo. Então, assim como o viajante perdido no deserto tem seus sentidos afetados ao faltar-lhe alimento, do mesmo modo ocorreu com o Peregrino: em pouco tempo seus julgamentos não passavam de alucinações; passado um período maior, a sanidade já não permanecia senão latente no âmago de sua alma. E o que de início reconhecia como delírios de sua parte, passaram a ser a verdade que o guiava.

 ***

 Àqueles que ainda não estão familiarizados com estórias como essa que se está contando, convém informar que uma só vida é um piscar de olhos; e, quando dizemos que muito tempo se passou na vida do Peregrino longe da pátria de origem, queremos dizer que há muitas e muitas vidas de lá ele partiu. Tantas quantas se possa imaginar, e muitas mais do que se possa lembrar.

 (Continua…)

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