É claro que a internet possui vantagens e desvantagens. As suas vantagens são muitas. Mas convém atentarmos para o seu lado não tão nobre, e que nos afeta muitas vezes sem que percebamos.
Para isso, proponho uma viagem no tempo. Transportem-se mentalmente para meados da década de 90 do século passado. Nesse período, a internet era incipiente e seus efeitos ainda praticamente nulos em nosso cotidiano. Lembrem-se de como eram as coisas nesse tempo. Lembrem-se de como era a vida nas cidades do interior, do modo mais amigo e solícito com que as pessoas tratavam umas às outras. Da maior paciência nas relações, do amadurecimento de valores em cada um de nós ao longo de nossas vidas.
O que a internet tem a ver com tudo isso? Muita coisa! Sua crescente presença em nosso dia-a-dia incute em nós características que lhe são próprias: imediatismo, pensar veloz, atenção dispersa e superficialidade, para citar apenas algumas.
(Sempre que uma lista de características é exposta assim, sem antes encaixar-lhes num contexto, é inevitável que cada um as situe dentro do escopo mental em que já as compreenda.)
Acostumamo-nos a obter respostas imediatas, pois no mundo da rede elas estão a um clique. Mas certas questões, por sua própria natureza, não podem ser compreendidas de imediato. Seu entendimento requer reflexão, meditação à respeito.
Um pensar veloz, por sua vez, requer harmonização e equilíbrio entre as ideias concatenadas, sob pena de resultar em mera confusão mental, ao invés de um construto racional sólido e coerente.
Tão importante quanto aquilo que buscamos conhecer é ter discernimento em relação àquilo que não nos serve, àquilo que não queremos para nós. Os conhecimentos existentes são infinitamente maiores do que é possível ser conhecido por cada indivíduo. Assim, resta traçar uma linha mestra daquilo que nos interessa e buscar compreender os pontos que, ao ligarem-se, dão forma a ela. Foco (atenção concentrada) é a palavra-chave.
Todos os fatores mencionados estão relacionados entre si e diretamente ligados com a superficialidade da compreensão que, por seu turno e por definição, contrapõe-se à profundidade.
A “Era da Informação” é uma era de informação rasa, que leva a um conhecer sem substância. Sabemos muitas coisas, mas a maior parte do que sabemos não possui grande relevância. Todos sabem que o artista da moda, que vive do outro lado do mundo, quebrou a unha do mindinho, poucos minutos depois disso acontecer. E informações desse tipo permeiam os diálogos, introduzidos por um “Você viu que…” e seguidos de uma série de comentários que gravitam ao redor de tão importante assunto. Esse é um exemplo caricato e extremo, mas é também representativo de parte significativa das ideias trocadas no dia-a-dia.
É verdade que muita coisa mudou no mundo de uns anos para cá; não foi somente o advento da internet que transformou nosso modo de pensar e agir. Mas também é verdade que tanto a internet como as revoluções tecnológica e da informação nos afetam sobremaneira.
É, portanto, oportuno refletirmos sobre como isso tem impactado em nossas vidas, sobre o quão importantes são as informações que estão alimentando nossos pensamentos, impregnando nossa alma.
Hoje em dia, chavões espalham-se como vírus, disseminando velozmente “verdades” que são aceitas, repetidas e defendidas com veemência, sem que haja uma análise cuidadosa quanto aos seus fundamentos de validade.
Esqueceu-se que o saber é um processo que se dá no interior de nós mesmos, sendo a informação tão-somente matéria-prima, a qual apenas com o devido processamento pode converter-se em aprendizado.
Na internet não há espaços para beijos, abraços e apertos de mão. É um ambiente frio em que todos, estranhamente, buscam acolhimento. A tela de um computador exerce um efeito magnético, que atrai nossos olhos com muito mais força do que o brilho das estrelas os cativa. E isso é um sintoma dos tempos em que vivemos: tempos de muita informação, mas de pouco conteúdo.
Sentimos falta de ouvir “a voz da sua alma”… rsrs
Saudades
Esperamos você na sexta!