Envolvida pelo som de uma canção celestial, caiu em sono profundo. O tênue sorriso conferia-lhe um semblante angelical, como se sua alma tivesse sido levada para as mais sublimes esferas de paz e harmonia. E de fato havia sido.
Assim que os olhos de seu corpo de matéria cerraram-se ao embalo da música, os olhos de sua alma abriram-se diante de um lugar magnífico e resplandecente. Tudo era brilhante, belo e majestoso. Todos os objetos eram reluzentes e harmônicos. Nada era menos do que perfeito.
A jovem, que agora vestia um longo vestido perolado, enfeitado por delicadas pedras cintilantes, deparou-se com um local que não imaginava poder existir. Ao mesmo tempo, porém, a sensação de familiaridade era viva em seu coração.
A relva era prateada, com uma leve tonalidade de azul claro; espargia dela um brilho cintilante. Tudo, aliás, era cintilante. Pouco adiante havia um palacete, cujo pórtico de entrada era imenso e de onde emanava um brilho ainda mais intenso do que o do restante da paisagem.
Como se já conhecesse tudo ali, dirigiu-se à entrada do palacete e a atravessou.
Do outro lado, uma multidão de pessoas estava reunida em pé num semi-círculo, esperando por ela. Sem pestanejar, a garota correu para os braços daquele que parecia ser o senhor do palacete. Foi carinhosamente abraçada e, depois do caloroso abraço e do choro de emoção, afastou-se um pouco. Permaneceram com as duas mãos dadas e os olhares fixos um no outro, ao que o homem lhe disse:
– Minha filha, querida. A emoção desse instante que a tenho diante de mim é maior do que a saudade das longas eras que passamos distantes; saudade essa que não foi pouca. Saiba que este é teu lar e que as portas estarão sempre abertas esperando por ti. Tua presença enche a mim e a todos aqui de alegria. E estamos ansiosos para tê-la conosco novamente. Guarde, onde quer que vá, a lembrança deste momento. E não te esqueças dele jamais, pois aqui é o teu lugar. E aqui estão muitos daqueles que te amam com o amor verdadeiro, que perdura por todo o tempo e distância.
Enquanto falava, todos ao redor curvaram-se respeitosamente, virados com os semblantes emocionados em direção de pai e filha.
Mas algo despertara seu corpo de matéria e aquele momento mágico que gostaria que durasse para sempre dera lugar à vista com que estava acostumada: os raios de sol penetrando pela janela e iluminando as mobílias de seu quarto.
Tudo que lhe era comum parecia agora tão surreal. Parecia ter lembrado de algo que jamais deveria ter esquecido e, mesmo com estranheza, guardara dentro de si a certeza de que seu sonho não fora apenas um sonho e que, em algum lugar além das estrelas, havia algo que precisava buscar.
Esses são os sonhos mais belos e verdadeiros.