Meses atrás, esqueci de comprar fósforos no supermercado. Hoje, meu prédio está sem luz e, portanto, o acendimento automático do fogão não funciona. Me dei conta disso quando ia deixar uns biscoitos de queijo pra assar. Sem problemas. Resolvi mudar de planos. Decidi meditar – coisa que só iria fazer mais tarde.
Não consegui entrar em meditação profunda, mas foi o suficiente para dissociar a minha consciência do meu corpo físico e, mais que isso, de todo o universo material. Foi interessante.
Antes disso, havia passado uma tarde introspectiva, com leituras amenas e aproveitando a tranquilidade de um dia chuvoso. Há horas a região está sem luz, o que significa: nada de televisão; e outras distrações, como celular e notebook, somente com moderação, enquanto durar a bateria.
Pois bem, cá estava, no apartamento em que moro, com a parca iluminação de uma lanterna para deixar o ambiente mais aconchegante e nenhuma distração. Cruzei as pernas, cerrei os olhos, controlei a respiração e me pus a meditar. Soube, com plena convicção, que apesar de meu corpo estar à penumbra numa sala, minha consciência poderia estar em qualquer lugar, sem limites de possibilidades, a não ser aqueles autoimpostos, ou aceitos – seja isso de modo consciente ou, como é mais frequente, inconscientemente.
Se uma simples coceirinha chamar a atenção, é pra lá que nossa consciência se dirige. Se uma angústia nos acomete, é pra lá que nossa consciência se dirige. Se pensamentos tumultuados se sucedem em nossa mente, é pra lá que nossa consciência se dirige.
Mas esse processo se repete tão somente pela força do hábito. As coisas são desse jeito, mas não precisam ser assim. Nossa consciência está habituada a voltar-se para os nossos sentidos. Mas esse hábito, como todos os demais, pode ser mudado e substituído por outro que melhor nos convenha. Nossa consciência pode voltar-se para si mesma. E quando isso ocorre, isto é, quando somos conscientes de nossa própria consciência, desligamos o piloto automático e passamos a traçar nossos próprios rumos.
Podemos brincar com as percepções de nossa consciência. Podemos concentrá-la num único ponto, como num chakra, por exemplo. E quando digo concentrá-la, refiro-me a voltar toda ela, sem dispersão, para um único ponto. Se a voltarmos para nosso coração – ou chakra cardíaco – podemos ter ciência de todas as emoções e sentimentos que nele vibram. Podemos identificar a origem de cada sentimento e, se o sentimento não for positivo, podemos arrancar-lhe pela raiz. Por outro lado, se for um sentimento positivo, podemos amplificá-lo, explorando outras perspectivas de tal sentimento, além de irradiá-lo para quem quer que seja.
Podemos, em vez de concentrar a consciência num único ponto, expandi-la cada vez mais e mais, buscando abarcar um universo cada vez maior. O limite é o Infinito. Não há nada que seja impenetrável para uma consciência. Aonde quer que você a lance, ela irá. Ou melhor, aonde quer que você se lance, você irá – isso, pois você é a sua própria consciência.
Da próxima vez que se olhar no espelho, saiba que aquela imagem refletida não corresponde àquilo que você é. Você está habituado a associar – e mesmo identificar – a sua consciência ao seu corpo físico. Mas a sua consciência é muito anterior a ele, e perdurará independentemente dele. A forma de sua consciência é a forma que você quiser dar a ela, ou melhor, é a forma com que você concebe ela, e esse processo se dá quase que sempre sem que o notemos. Sua consciência sequer precisa de uma forma definida.
Há tanto para aprendermos sobre o mundo espiritual, que está além do mundo sensorial. Vale tanto a pena nos desligarmos dos sentidos, que nos ligam apenas ao mundo externo material, e nos voltarmos para o nosso interior, cujo alcance não tem limites…
Ainda bem que esqueci dos fósforos…