“Os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido.” (Winston Churchill)
A verdade é como uma luz forte que obriga os olhos a ela não habituados a cerrarem-se em proteção. As pálpebras são a proteção natural dos olhos contra a luz; o autoengano é a proteção natural contra a verdade.
Aquele que, por desalinhado das verdades maiores, ofende-se quando estas lhe são mostradas, só demonstra com tal melindre uma escassez de maturidade espiritual.
Um espelho não distorcido, mostra tão só o reflexo fidedigno daquilo que diante dele se encontra. Se o que diante dele se encontra somos nós e, ainda assim, não nos agradamos com aquilo que vemos, que sentido tem ficarmos ofendidos com o espelho?
Se não gostamos de nossa imagem refletida, cabe a nós tratarmos de melhorar, dentro das possibilidades, nossa aparência. Ficarmos bravos com o espelho nunca irá resolver o problema.
Do mesmo modo, não faz sentido tratar com braveza ou mesmo melindre as verdades de nós mesmos que nos são mostradas. Se não gostamos dessas verdades, o culpado somos nós mesmos e não o mensageiro que no-las mostrou.
Mas não deixa de ser natural para o ser humano agir deste modo. No geral, ainda não passamos de um estágio primevo de maturidade emocional e espiritual.
Além do autoengano, o esquecimento é outra proteção contra a verdade. Aqueles que se deparam com verdades com as quais não estão prontos para lidar, reagem inicialmente com uma perplexidade exacerbada diante da nova perspectiva. No entanto, esse efeito não é duradouro. Em pouco tempo a pessoa acaba esquecendo daquilo que a chocou, se isso estiver fora do cabedal de sapiência que sua alma assimilou.
A luz é a metáfora perfeita para a verdade, assim como as trevas o são para a ignorância. Os olhos facilmente se acostumam à penumbra, chegando a sentir-se aconchegados a ela. Os mesmos olhos, com igual facilidade, ambientam-se na escuridão. Daí ao breu total, a linha é tênue.
O mesmo se dá com a consciência, que pouco a pouco vai se habituando a pequenas mentiras e doces ilusões na mesma proporção em que se afasta da verdade. A ignorância é o breu da consciência. Assim como os olhos acostumados ao breu se machucam quando expostos à luz, as consciências imersas na ignorância ferem-se quando diante da verdade.